Neste programa, os profissionais Daniela Ribeiro Schneider, Ileno Izídio da Costa e Neilane Bertoni debatem sobre o uso de drogas no Brasil, a partir de dados coletados durante a pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz.
Sujeitos, contextos
e drogas
Neste programa, os profissionais Daniela Ribeiro Schneider, Ileno Izídio da Costa e Neilane Bertoni debatem sobre o uso de drogas no Brasil, a partir de dados coletados durante a pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz.
Os efeitos, tanto sociais quanto subjetivos do uso de drogas, são fortemente relacionados aos seus contextos sociais e aos controles sociais formais e informais vigentes em cada época, como por exemplo, as leis e os costumes. Veja a seguir um rápido recuo histórico que descreve como a droga assume distintos significados em diferentes ocasiões.
A noção de “sujeito” é um conceito amplo que faz referência à pessoa em relação ao mundo, isto é, ao “ser” que interage com a realidade (sujeito histórico), que pertence a um determinado espaço (sujeito social) e que sofre e exerce influências culturais (sujeito cultural). Neste contexto, o sujeito, a partir das relações que vivencia no mundo, produz significações que lhe permitem singularizar os objetos coletivos. Neste entrecruzar, cada individuo ao realizar sua história também realiza a dos outros, na mesma medida em que é realizado por ela, sendo, por isso, produto e produtor da sociedade e participante ativo de seu tempo histórico. O ser humano é um ser social e histórico que passa por diversas mudanças e processos no decorrer do tempo, devido à cultura e às condições sociais produzidas pela humanidade. Por esta razão, o projeto de vida de cada indivíduo possui uma origem e uma finalidade e a sociedade apresenta os limites e possibilidades de elaboração e construção destes planos, baseando-se nos modos culturalmente construídos para ordenar a realidade. Em contrapartida, o sujeito assume a responsabilidade pelas decisões e comportamentos adotados por ele em meio à sociedade em que vive.
Sujeito e subjetividade são temas que não se separam. A subjetividade tem a ver com a forma como o sujeito expõe os significados e sentidos das coisas frente ao contexto social em que vive e as relações interpessoais que estabelece, criando, assim, marcas em sua vida relacionadas à construção de suas crenças, ideias e valores.
"A família é unidade básica da sociedade formada por sujeitos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos. É a primeira referência da pessoa. Mediadora entre o sujeito e a sociedade, é onde aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos nele. É um dos grupos responsáveis por nossa formação pessoal."
Neste vídeo o psiquiatra Jairo Bouer entrevista o Prof. Dr. Ileno Izídio da Costa sobre a importância de compreendermos o sujeito para podermos propiciar um tratamento adequado aos problemas relacionados ao uso de drogas.
A "instituição família" tem passado por inúmeras transformações em virtude das mudanças socioculturais contemporâneas, tais como: novas relações entre os sexos, maior controle da natalidade, inserção massiva da mulher no mercado de trabalho, maior envolvimento do homem nas relações familiares e nos trabalhos domésticos. Veja, no infográfico a seguir, as diferentes configurações das famílias do século XXI:
O núcleo familiar desempenha papel fundamental no desenvolvimento do processo de integração/inclusão social de seus membros, isto é, a família é responsável pela formação de um sujeito capaz de organizar sua própria vida e de responsabilizar-se por suas próprias ações. Por esta razão, a inclusão dela na construção de qualquer processo de compreensão e intervenção se torna muito importante para a prevenção e tratamento do usuário.
"A família e o contexto cultural são fatores importantes na determinação do padrão do consumo de álcool e de outras drogas. Há várias evidências de que os padrões culturais têm papel significativo no desenvolvimento dos problemas relacionados ao uso dessas substâncias."
O conceito de comunidade engloba não somente o conjunto de pessoas que a formam, mas também as complexas relações sociais que existem entre seus membros, o sistema de crenças que professam e as normas sociais que a regem. Por isso, a apreciação da singular complexidade de cada comunidade é essencial para compreender os sujeitos que nela se inscrevem, e a forma como tomam as decisões que afetam a saúde e o bem-estar de todos os integrantes.
Você encontrará outras informações sobre esta temática um pouco mais à frente, no Módulo 2.
Rede social significativa é o conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam sujeitos a outros sujeitos, tecendo laços de reciprocidade e cooperação. Além da família, existem outros grupos e pessoas que pela convivência, afinidade e interesses em comuns, acabam moldando muitas das características pessoais de cada indivíduo, influenciando seus comportamentos e atitudes.
O suporte social é uma forma de relacionamento interpessoal, grupal ou comunitário que fornece ao sujeito um sentimento de proteção e apoio capaz de propiciar a redução do estresse e bem-estar psicológico, sendo, por isso, central para se pensar processos de intervenção psicossocial, uma vez que descreve o conjunto de pessoas que oferecem ajuda e apoio de forma real e duradoura ao sujeito ou à família.
A reinserção social assume o caráter de reconstrução das perdas, uma vez que tal ato se dá porque já houve um processo de exclusão. O objetivo da reinserção é a capacitação da pessoa para exercer em plenitude o seu direito à cidadania e resgatar uma rede social inexistente ou comprometida pelo período do uso problemático da droga. A reinserção social torna-se, assim, o grande desafio para o profissional que atua na área.
O processo de reinserção começa com a avaliação social, momento em que se mapeia a vida do sujeito em aspectos significativos que darão suporte à retomada de seu projeto originário ou à construção de um novo projeto de vida. Neste momento, faz-se necessário assumir uma postura de acolhimento do sujeito, no qual a atitude solidária e a crença na capacidade dele construir e/ou restabelecer sua rede social irão determinar o estabelecimento de um vínculo positivo entre ambos. Este é um processo longo e gradativo que implica, inicialmente, a superação dos próprios preconceitos e o resgate da autoestima.
Drogas são substâncias psicoativas utilizadas para produzir alterações nas sensações, no grau de consciência ou no estado emocional. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da pessoa que a usa, o tipo e quantidade de droga utilizada, o efeito esperado da droga e as circunstâncias em que é consumida.
Podemos identificar dois grandes grupos de drogas, reunidas segundo o critério de legalidade perante a lei: as drogas lícitas e as drogas ilícitas.
Pensando em refinar um pouco mais o conhecimento que você já possui sobre o assunto, pontuamos, a seguir, algumas questões referentes às drogas e seu uso:
O fenômeno da dependência de drogas (ou fármaco-dependência) é um fato complexo e multifatorial, uma vez que lida com realidades individuais extremamente diversas. A dependência de drogas consiste na organização processual de um sintoma cuja gênese é tridimensional:
"Em relação à dependência de drogas, a influência de fatores genéticos não deve ser entendida como uma fatalidade que vai necessariamente fazer com que um sujeito se torne dependente em decorrência dessa herança genética. Entendemos que a presença de determinadas configurações geneticamente herdadas poderiam apenas predispor um sujeito a se tornar dependente, porém, sob a influência de outros fatores que poderão ou não contribuir para o aparecimento de uma dependência."
Conheça os principais quadros que podem estar relacionados ao uso de substâncias psicoativas.
Alguns sujeitos fazem uso constante de drogas para aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis, entre outras justificativas. O dependente químico, por sua vez, não consegue controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva. Há duas formas de dependência: física e psicológica.
Muitas pessoas (inclusive os usuários experimentais e ocasionais) têm dificuldade para reconhecer que o uso de drogas, legais ou ilegais, pode se tornar um hábito nocivo e perigoso. Em grande parte, isso ocorre porque a maioria dos consumidores de drogas conhece muitos usuários ocasionais e poucas pessoas que se tornaram dependentes ou tiveram problemas com o uso de drogas. Diante disso, o prazer momentâneo obtido com a droga acaba não favorecendo maiores preocupações com os riscos envolvidos no seu uso. No entanto, quando se instala a dependência, a pessoa não consegue largar a droga por duas possíveis razões:
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) os padrões de uso de drogas podem ser definidos segundo a frequência de consumo da droga.
Em relação à frequência do uso de drogas, a OMS classificou os usuários em:
Veja, a seguir, alguns padrões de autoadministração de substâncias psicoativas aceitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Estes padrões baseiam-se na forma de uso e na relação que o sujeito estabelece com a substância e suas eventuais consequências negativas.
A "epidemiologia" não estuda apenas as grandes epidemias (aumento do número de ocorrências), mas também a frequência e os fatores relacionados à ocorrência de agravos, doenças e/ou comportamentos relacionados à saúde da população.
Deste modo, falar em epidemiologia do uso de drogas não significa necessariamente que exista uma epidemia desse comportamento no Brasil, significa, porém, que há um interesse em entender como esse fenômeno acontece, qual é a distribuição dele no espaço e como as suas possíveis alterações ocorrem ao longo do tempo.
Para isso, são realizadas pesquisas com as populações-alvo para saber qual é a frequência e quais são as características das variáveis de interesse nesse grupo. Essas informações coletadas são denominadas dados epidemiológicos e os estudos realizados para tal fim são os levantamentos epidemiológicos, os quais se mostram essenciais na formulação e avaliação de políticas públicas consistentes afinadas com os problemas mais relevantes apontados pelos dados empíricos. Uma abordagem complementar para se utilizar quando se deseja estudar o consumo de drogas da população é a análise de indicadores epidemiológicos.
Os levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio constituem o painel de dados mais amplo e sistemático sobre o tema de que dispomos no Brasil, com estudos realizados em 1987, 1989, 1993, 1997, 2004 e 2010. Veja algumas informações sobre este levantamento no infográfico a seguir.
O primeiro (e único, até o momento) levantamento nacional sobre drogas referente a universitários brasileiros de instituições públicas e privadas foi realizado no ano de 2009, em todas as 27 capitais do país. Veja, no gráfico a seguir, alguns dados levantados nesta pesquisa.
A pesquisa sobre o consumo de drogas entre a população jovem em situação de rua ganhou uma dimensão nacional na sua edição de 2003, abrangendo as 27 capitais do país. No entanto, apesar da importância do estudo, vale ressaltar que a amostra, mesmo a da última edição, não foi representativa de todas as crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil. Confira alguns dados no infográfico abaixo:
Contamos, até o presente momento, com duas edições do levantamento domiciliar sobre drogas (2001 e 2005), as quais objetivaram estimar o consumo de drogas pela população geral brasileira. Veja alguns destes dados a seguir.
Esses achados, relativos à população geral, mostram-se distintos daqueles referentes aos escolares, o que induz que sejam analisados, sempre e de forma integrada, os dados provenientes de diferentes populações.
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD - em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, realizou recentemente uma ampla pesquisa que teve como propósito delinear o perfil dos usuários de crack e estimar a proporção e a distribuição geográfica dessa população nas capitais brasileiras, no ano de 2012.
Esse estudo revelou que 0,8% da população desses municípios consumiu essas drogas de forma regular nos últimos seis meses, e estimou que o número de usuários regulares de drogas ilícitas (com exceção da maconha) correspondia a 2,3% da população das capitais.
Desta forma o crack e/ou similares foi consumido por um terço dos usuários de drogas ilícitas (com exceção da maconha), o que se contrapõe às formulações que circulam pelos meios de comunicação, as quais disseminam que o crack é a droga mais consumida no país.
Neste momento, convidamos você a assistir ao programa “Vulnerabilidade: Determinantes Sociais em Saúde” com os especialistas Jessé de Souza, Roberto Tykanori e Pe. Vilson Groh. A conversa foi mediada pelo Dr. Jairo Bouer e contou com a presença de conselheiros e representantes de lideranças comunitárias de diferentes locais do Brasil.
Confira!
Neste momento, convidamos você a refletir e, quem sabe, debater com a comunidade acerca do seguinte tema:
Por que a maioria das ações de prevenção e tratamento continua a se pautar em uma via repressora, muitas vezes, sem qualquer evidência científica, estigmatizando usuários e centralizando nas substâncias, e não se voltam para a questão das determinantes sociais que produzem vulnerabilidades psicossociais que estão na base do uso problemático relacionado às drogas?
Esperamos que as reflexões suscitadas a partir deste questionamento contribuam para você atuar de forma mais crítica e capaz dentro de sua comunidade.
Retrospectiva do Módulo 1
Até este momento foram aprofundados os seguintes assuntos:
Agora convidamos você à reforçar seu conhecimento respondendo as questões autoavaliativas, as quais consistem em perguntas objetivas referentes a cada módulo. Você poderá visualizá-las acessando o espaço indicado na Webteca.
Bons estudos!